Quando percebo estou vendo uma jarra. Vazia.
Ligo a TV.
Abro Paul Auster. Uma série de pensamentos se mistura a tudo.
Apago o cigarro. Calo. Permaneço imóvel.
Só me dou conta quando a água cai sobre minha cabeça.
Esfrego o sabonete repetidas vezes.
A comida da lanchonete cai mal. Mole. Malcheirosa.
Pior do que o cheiro do ralo.
É o meu cheiro e não preciso explicar nada a ninguém.
Não aqui.
Não aqui em minha casa.
Deveria ter cagado antes do banho.
[..]
Descongelo algo no microondas. Tento comer. Não sinto o sabor.
Assisto TV. O vai e vem em close-up lembra uma engrenagem.
Caio no sono.
Domingo.
Acordo na sala. A engrenagem ainda trabalha. TV a cabo, vinte e quatro horas de entretenimento. Preparo o café. Como uma fatia de pão de forma. Não passo manteiga.
[lourenço mutarelli, 'o cheiro do ralo']