Tudo aquilo a que o homem civilizado foi obrigado a renunciar em sua vida diária foi sendo substituído pela experiência estética. A nobreza cortezã, afastada dos campos de batalha, apaixonou-se pelos romances de cavalaria. A relação com a natureza foi ficando cada vez menos fisiológica e mais contemplativa; no Romantismo, pintores e poetas idealizaram uma natureza tão mais harmoniosa e nostálgica quanto mais a vida civilizada os distanciava dela. A própria sofisticação crescente dos códigos de cortesia pode ser interpretada como resultado estilístico do trabalho da sublimação de todos os impulsos sexuais e agressivos que a vida em sociedade exigia que fossem adiados ou suprimidos.
[Maria Rita Kehl]